Parece verdade, mas não é
Um dos maiores problemas de julgamento, na minha opinião, é praticar a metonímia de valores.
Explico.
Li - com pesar - um comentário tão infeliz quanto estapafúrdio que dizia algo como "Quer encontrar um sentido na sua vida? Arranje um filho. Nada é melhor para a vida do que viver para os outros e não somente para si mesmo".
Por onde começar?
Bom, primeiro, o erro pode começar pelo fato - correto - de que, sim, a dedicação ao outro pode, ainda que por consequência, não por finalidade (que é o que diferencia a virtude do defeito), nos dar outra dimensão sobre a vida, quer por comparação, quer pela diversidade em si, somente. Mas esse "outro", pode ser qualquer outro ente, que não nós mesmos. Pode (por que não) ser inclusive ter um hobby qualquer, tipo, colecionar maçanetas. Sim. Sabe por que? Por que o fato de debruçar-se sobre qualquer fato fora de nós mesmos pratica o ato mesmo de pôr-se em debate, quer deixando de discutir com a nossa própria cabeça, quer tendo que, pela busca, nos socializarmos pelo caminho. Já dizia a semiótica, o eu só existe em detrimento e reconhecimento do tu. História velha, vinda lá da Grécia, quando falavam dos corpos cindidos.
Segundo, eu realmente tenho pena de quem tem filhos por motivos. Mas principalmente, por motivos que os justifiquem. Mais: por motivos que justifiquem a existência não dos filhos, mas de si próprios. Eu não sei qual é o sentido supremo de se ter filhos, mas esse é claramente um motivo muito equivocado. Lembro de um texto que li há muito tempo atrás em que a escritora dizia "filho não é presente de ocasião. No aniversário do seu marido, dê uma camisa, isso é presente".
É a metonímia do burro prepotente, que toma a parte pelo todo, parte e todo completamente desvinculados, com milhares de peças faltantes, mas que ele não só vê como completos, como também os considera cheios de sentido e valor.
Ou seja, dentre todas as covardias de julgamento que se pode cometer, eu considero essa umas das piores: tomar um fato verídico, misturá-la com um recalque e sair por aí distribuindo a fórmula do sentido da vida, a todos que, de um jeito ou de outro, ainda tentam, ainda perguntam, ainda têm dúvidas sobre como tornar os dias um pouco menos duros, um pouco mais felizes.
Explico.
Li - com pesar - um comentário tão infeliz quanto estapafúrdio que dizia algo como "Quer encontrar um sentido na sua vida? Arranje um filho. Nada é melhor para a vida do que viver para os outros e não somente para si mesmo".
Por onde começar?
Bom, primeiro, o erro pode começar pelo fato - correto - de que, sim, a dedicação ao outro pode, ainda que por consequência, não por finalidade (que é o que diferencia a virtude do defeito), nos dar outra dimensão sobre a vida, quer por comparação, quer pela diversidade em si, somente. Mas esse "outro", pode ser qualquer outro ente, que não nós mesmos. Pode (por que não) ser inclusive ter um hobby qualquer, tipo, colecionar maçanetas. Sim. Sabe por que? Por que o fato de debruçar-se sobre qualquer fato fora de nós mesmos pratica o ato mesmo de pôr-se em debate, quer deixando de discutir com a nossa própria cabeça, quer tendo que, pela busca, nos socializarmos pelo caminho. Já dizia a semiótica, o eu só existe em detrimento e reconhecimento do tu. História velha, vinda lá da Grécia, quando falavam dos corpos cindidos.
Segundo, eu realmente tenho pena de quem tem filhos por motivos. Mas principalmente, por motivos que os justifiquem. Mais: por motivos que justifiquem a existência não dos filhos, mas de si próprios. Eu não sei qual é o sentido supremo de se ter filhos, mas esse é claramente um motivo muito equivocado. Lembro de um texto que li há muito tempo atrás em que a escritora dizia "filho não é presente de ocasião. No aniversário do seu marido, dê uma camisa, isso é presente".
É a metonímia do burro prepotente, que toma a parte pelo todo, parte e todo completamente desvinculados, com milhares de peças faltantes, mas que ele não só vê como completos, como também os considera cheios de sentido e valor.
Ou seja, dentre todas as covardias de julgamento que se pode cometer, eu considero essa umas das piores: tomar um fato verídico, misturá-la com um recalque e sair por aí distribuindo a fórmula do sentido da vida, a todos que, de um jeito ou de outro, ainda tentam, ainda perguntam, ainda têm dúvidas sobre como tornar os dias um pouco menos duros, um pouco mais felizes.
Cena do filme METROPOLIS (1927) |
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