Pare o trem, não importa a estação


Ah, o homem e sua eterna insatisfação... Corre atrás das coisas, corre atrás dos outros, corre atrás de si e corre atrás do tempo e começa tudo de novo. A busca por viver o presente, de forma o mais fartamente possível é o tema de hoje, na coluna do Jack Bianchi, a quem gosto sempre de ouvir. E foi um dos temas de ontem, na Conexão Roberto D´Avila, que trouxe como convidada a filósofa Viviane Mosé, a quem admiro muito também.

No programa de ontem, ficou na minha mente as palavras de Viviane. Citando Jorge Luis Borges: "só fui ver realmente quando fiquei cego", ela chamou atenção para o fato, quase nunca considerado, de só darmos valor às coisas quando elas nos faltam. Ainda segundo ela, costumamos valorizar a vida quando temos, quando consumimos, quando viajamos, mas o ato mesmo, o ato puro de estar vivo, poucos sabem apreciar. "Mas basta um dia só numa cama de hospital para invejarmos quem passa pela nossa janela, unicamente pelo fato de eles poderem caminhar, simplesmente", completa.

Hoje Jack chama a atenção para todo o volume de coisas que guardamos, dia após dia, para realizar amanhã. Coisas simples, mas que, sob a perspectiva de só termos um único dia de vida pela frente, ocupariam os primeiros lugares de nossa agenda.

Tenho vivido e visto muito de tudo isso. A cada dia parece sobrar menos tempo depois dos nossos afazeres e cada vez mais afazeres ficam pendentes para outro dia. Cada vez o presente torna-se um pesado fardo a anteceder um futuro que parece cada vez mais incerto em termos de leveza. Na esfera do sujeito, na esfera coletiva, na esfera mundial.

Espero poder, ainda, descer do trem e saber aproveitar o que houver, independente da estação. Espero, com todas as minhas forças, não ficar cega para a beleza que há, que sempre houve, debaixo das cinzas desses afazeres todos, que com tanta urgência, nos exigem que os executemos, apesar de nós, à custo de nós mesmos.

E espero poder descansar, genuinamente.

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