"..fumou cigarro de chuchu, fez coleção de favas, foi a missa aos domingos, assistiu a fita de Tom Mix, Buck Jones e Carlito no cineminha da cidade, apanhou bicho-de-pé, pisou em urina de cavalo e ficou com mijacão, armou arapuca no mato, jogou futebol com bola de meia, teve dor de dente de noite, foi coroinha na igreja, contou quantas vezes fazia coisa feia para se lembrar na confissão, procurou não mastigar hóstia para que não saísse sangue, fez flautinha de bambu, ficou preso pela piroca num gargalo de garrafa, molhou o pijama de noite e teve medo de estar doente, ficou com pedra na maminha e perguntou à mãe o que era, se apaixonou pela filha mais velha dos italianos do empório, tirou o cavalinho da chuva, pensou na morte da bezerra, chorou escondido, teve medo, descobriu que o céu era imenso, teve vontade de morrer, ficou acordado de madrugada ouvindo o galo cantar sem saber onde, sentiu dores nos culhões, comeu a negra Adelaide e virou homem."
O Grande Mentecapto, de Fernando Sabino.
Não tem novidade nenhuma aqui fora, amor. Nada será novo daquilo que já é a vida de todos. O mundo que te receberá é velho e caduco. Já tem dentes amarelos, já tem pigarro na voz. É cada vez mais seco de cor e de alma.
Mas de alguma forma, pra você nada ainda aconteceu. Nem mesmo o Big Bang. E misteriosamente, você, como todos, só se dará conta disso tudo, quando já for tarde demais: o mundo já terá sido a aventura toda da sua vida. Não há mistério, apesar de só haver mistérios.
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