Melancolia
Eu amo o Lars Von Trier. É bom que se comece assim, para não deixar dúvidas de que esse é um relato bem parcial. Além de gostar dele como cineasta, gosto também do Movimento do qual ele fez/ faz parte, que é o Dogma 95.
O Movimento trouxe, com sua câmera nervosa e seus temas incômodos, o cinema para mais perto do espectador, no sentido de aproximá-lo da experiência vivida na tela, quase como se o cutucasse com suas cenas. E Lars Von Trier usa muito bem essa proximidade para fazer o que ele sabe, também muito bem: com sua capacidade inquestionável de fazer cinema, ele aprisiona o espectador e o paralisa, para contar sua história, se possível, usando e abusando dos limites de cada um, em viver as experiências contadas. Permanecer-se impassível diante de um filme de Lars Von Trier é quase impossível.
E isso acontece de novo em Melancolia, seu último filme.
Registrar a melancolia, para o cineasta, talvez tenha sido uma escolha ainda mais pessoal, considerando seu histórico de luta contra a depressão. Mais uma vez, porém, o retrato desse mal é vívido e experenciável por quem quer que seja, através dos vários planos simbólicos e da própria dramaticidade dos personagens.
Mas, ousaria dizer, Melancolia não é um filme sobre a depressão; é, antes de tudo, uma contestação acerca das relações dos indivíduos, consigo e com os outros. É, talvez, o que representaria o fim de um processo de depressão ocasionada por ela mesma e pela descoberta de uma nova faceta dela, que a identifica não como um mal que acomete uma pessoa, como uma tragédia, mas mais como uma explosão de algo que já está presente em todos nós.
A depressão agrava o sentimento do inexorável, mas o inexorável é a marca de estar vivo. Em menor ou maior grau, a depressão afasta os indivíduos como qualquer coisa que os afasta, pelas próprias mãos ou pelas mãos de outras pessoas. De certa forma, a fraqueza, a rigidez, a ilusão, a fé, a descrença, tudo é uma faceta depressiva, no sentido de que são males que nos afastam ou nos unem, atraindo a compaixão, o altruísmo ou a indignação e a revolta. "A Terra é má, ninguém sentirá falta dela, quando ela se for", diz a personagem de Kirsten Dunst. No que sua irmã responde "Mas onde meu filho vai crescer?" E uma das respostas do filme, que em tese, parece catastrófica, é sim, positiva: em lugar nenhum. Não há porque criar em um lugar de dor, seja qual for. Não há porque manter um estado de coisas que, apesar de aparentemente normais, não nos conduzem ao encontro, à paz. Não há paz na depressão, não há benefício numa situação em que não há vida, ou onde não se possa, efetivamente, viver a vida. De certa forma, é preciso deixar-se invadir pela melancolia, para que ela transforme nosso mundo, o devaste, para quem sabe, ter um novo começo.
O Movimento trouxe, com sua câmera nervosa e seus temas incômodos, o cinema para mais perto do espectador, no sentido de aproximá-lo da experiência vivida na tela, quase como se o cutucasse com suas cenas. E Lars Von Trier usa muito bem essa proximidade para fazer o que ele sabe, também muito bem: com sua capacidade inquestionável de fazer cinema, ele aprisiona o espectador e o paralisa, para contar sua história, se possível, usando e abusando dos limites de cada um, em viver as experiências contadas. Permanecer-se impassível diante de um filme de Lars Von Trier é quase impossível.
E isso acontece de novo em Melancolia, seu último filme.
Registrar a melancolia, para o cineasta, talvez tenha sido uma escolha ainda mais pessoal, considerando seu histórico de luta contra a depressão. Mais uma vez, porém, o retrato desse mal é vívido e experenciável por quem quer que seja, através dos vários planos simbólicos e da própria dramaticidade dos personagens.
Mas, ousaria dizer, Melancolia não é um filme sobre a depressão; é, antes de tudo, uma contestação acerca das relações dos indivíduos, consigo e com os outros. É, talvez, o que representaria o fim de um processo de depressão ocasionada por ela mesma e pela descoberta de uma nova faceta dela, que a identifica não como um mal que acomete uma pessoa, como uma tragédia, mas mais como uma explosão de algo que já está presente em todos nós.
A depressão agrava o sentimento do inexorável, mas o inexorável é a marca de estar vivo. Em menor ou maior grau, a depressão afasta os indivíduos como qualquer coisa que os afasta, pelas próprias mãos ou pelas mãos de outras pessoas. De certa forma, a fraqueza, a rigidez, a ilusão, a fé, a descrença, tudo é uma faceta depressiva, no sentido de que são males que nos afastam ou nos unem, atraindo a compaixão, o altruísmo ou a indignação e a revolta. "A Terra é má, ninguém sentirá falta dela, quando ela se for", diz a personagem de Kirsten Dunst. No que sua irmã responde "Mas onde meu filho vai crescer?" E uma das respostas do filme, que em tese, parece catastrófica, é sim, positiva: em lugar nenhum. Não há porque criar em um lugar de dor, seja qual for. Não há porque manter um estado de coisas que, apesar de aparentemente normais, não nos conduzem ao encontro, à paz. Não há paz na depressão, não há benefício numa situação em que não há vida, ou onde não se possa, efetivamente, viver a vida. De certa forma, é preciso deixar-se invadir pela melancolia, para que ela transforme nosso mundo, o devaste, para quem sabe, ter um novo começo.
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