Amai-vos uns aos outros


O tema escolhido para a 15ª Parada criou polêmica. A frase "Amai-vos uns aos outros: basta de homofobia", que faz referência a um mandamento bíblico, foi alvo de críticas. Em carta, a Associação da Parada do Orgulho GLBT (APOGLBT) de São Paulo, responsável por organizar o evento, se justificou: "Respeitosamente, nos apropriamos da frase 'Amai-vos uns aos outros' para pedir fim à guerra travada entre religião e direitos humanos, financiada pelas brasileiras e brasileiros que dão voz aos fundamentalistas e extremistas que ocupam as cadeiras do Parlamento e espaço nas mídias." Fonte: Diário do Grande ABC

Pois é, depois de centenas de anos, RESPEITOSAMENTE, o movimento se apropria de uma frase que, desde sempre, foi feita PARA TODOS. Respeito quase sempre negado às pessoas em nome de quem o movimento luta.

Eu fui criada numa família muito católica. Fui batizada, fiz a primeira comunhão, a crisma, só não casei, porque já adulta, tomei para mim o direito de acreditar ou não num rito. Não me arrependo de ter passado pelos outros ritos. Não me feriram. Da mesma forma, não me arrependo de conhecer a Bíblia, que é sim, um dos melhores livros de todos os tempos. Vale cada linha. Mas não pelo dogma da Escritura em si, mas porque é de uma riqueza METAFÓRICA imensa.

Se o Antigo Testamento dizimava com o fogo do céu ou com as tormentas naturais, o Novo Testamento está aí para trazer as explicações que se fizeram necessárias: Jesus, o filho de Deus, andou descalço, teve dúvidas, enraiveceu-se, perdoou uma prostituta, impediu um apedrejamento, curou um leproso. A mensagem foi uma só: TOLERÂNCIA. Não há, no Novo Testamento nenhuma mensagem de extermínio justificada pela diferença.

Porém, dois mil anos após tanto falar, as pessoas ainda usam de METÁFORAS para justificar a indiferença, o ódio, a agressividade e a violência. Atos esses, completamente avessos ao PRIMEIRO MANDAMENTO dos 10, que um dia foram trazidos por um revolucionário, um militante, que entre outras coisas, estimava ficar sozinho e em silêncio para ouvir a voz de Deus, que pode sim, ser a voz da consciência, a voz interior.

Eu entendo que a Bíblia tenha uma dimensão dogmática para muitos. Que ela seja o livro da orientação. O que eu não entendo é a conveniência de só se utilizar das partes que exemplificam o castigo, a dor, a ira. Porque da mesma forma que Deus mandou a praga, ele mandou Jesus. Um HOMEM que deu vinho, mandou dar a César o que era dele, um homem que PERDOOU o próprio povo que o crucificava.

Meu pai sempre fala (acho citando a Bíblia): não cai sequer uma folha da árvore, sem que Deus queira.

Tudo que há, tudo que habita a terra tem sua permissão de exisitir. Ele não fez exceção de cor, raça, credo, opção sexual. Eu, você, o bispo, o padre, a puta, o hétero, o homossexual, a mãe, o pai, o filho, o cão, o dragão de comôdo, todos vivemos num mundo com A MESMA PERMISSÃO.

Posso dizer com a certeza de que acerto muito: os dois maiores ensinamentos desse livro, que muitos usam para massacrar as outras pessoas, são AMOR E PERDÃO.

Perdão, me desculpem, que eu nem acho ser para o caso em questão. Ninguém precisa ser perdoado por aquilo que diz respeito à sua própria existência. Da mesma forma, que eu não saio por aí obrigando ninguém a ser mulher, mesmo porque eu tenho muito mais coisa a fazer da vida, um homossexual não tem como tarefa de vida estimular as pessoas a fazerem sexo com outro do mesmo sexo. Eles decidem, como nós, a quem dar O SEU AMOR. São pessoas, todos somos. E que decidem algo sobre uma particularidade da sua vida. PARTICULARIDADE é nome. Como uma senha no banco, como um gosto por determinado alimento, por uma cor. E tudo que eles querem é que seja feita a coisa que é natural e com que heterossexuais não se preocupam, por isso mesmo, porque é normal que cada um exercite sua sexualidade de forma saudável. Saudável é aquilo que faz bem. Homossexualidade não é remédio de tarja preta. É apenas uma particularidade que NÃO DEFINE O SÊR COMO UM TODO. Porque antes de optar por com quem dividiremos nossa vida sexual, somos todos seres HUMANOS. A HUMANIDADE É O QUE NOS DEFINE.

Lutem pelo fim da fome, pelo fim do crime, pelo fim da desigualdade social e cultural. Lutem pela fé que seja. Mas pelo amor de DEUS, deixem as pessoas serem felizes com suas vidas. Deus pode punir eles e nós que os apoiamos, mas ele também vai punir quem não perdoa, quem age com intolerância, com ira, com violência, quem PREGA O DESAMOR. E isso está lá na Bíblia, como está claramente, que na mão cujo o único dedo aponta pra frente, deixa apontados TRÊS DEDOS para si.

Sorte, coragem e beleza para todos que abrilhantarem mais uma das Paradas Gay de São Paulo. Um dia ela será só de comemoração e festa.

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