Bom dia

Que delícia, os presentes que a vida dá, logo de manhã...



MINHA CASA
(Zeca Baleiro)


É mais fácil cultuar os mortos que os vivos
mais fácil viver de sombras que de sóis
é mais fácil mimeografar o passado
que imprimir o futuro

não quero ser triste
como o poeta que envelhece
lendo maiakóvski na loja de conveniência

não quero ser alegre
como o cão que sai a passear com o seu dono alegre
sob o sol de domingo

nem quero ser estanque
como quem constrói estradas e não anda

quero no escuro
como um cego tatear estrelas distraídas


amoras silvestres no passeio público
amores secretos debaixo dos guarda-chuvas

tempestades que não param
pára-raios quem não tem
mesmo que não venha o trem não posso parar


veja o mundo passar como passa
uma escola de samba que atravessa

pergunto onde estão teus tamborins
pergunto onde estão teus tamborins

sentado na porta de minha casa
a mesma e única casa
a casa onde eu sempre morei.

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