Há o que há
Há diferença entre não querer mais uma coisa e querer que ela não exista.
Há coisas necessárias para se moldar o caráter, motivo pelo qual é bem melhor que as coisas existam. Entretanto, chega um momento em que essas mesmas coisas que nos ajudam a crescer perdem sua força, porque perderam duas características: sua utilidade e seu papel.
É estranho e pode parecer desumano falar da utilidade das pessoas. Mas por exemplo, amor é pra ser dado e uma das utilidades de existir mais além de nós, é a de servir à ação do amor. Então tudo e todos tem sua utilidade, da mais bonita a mais cabível.
Dorian Gray deu ao quadro o papel de ser tocado pela vida. Ele (Dorian) passou pela vida achando que viveu. A melhor metáfora de que muito pior que esconder do mundo é esconder de si: no fim, morre-se duas vezes, ambas na solidão. E quem recebe a facada é a sombra criada, tão longínquo e irreconhecível estava seu eu, que morre por consequência, nem o esvair do sopro lhe sobrando.
Há duas coisas importantíssimas que mantém qualquer relação: admiração e respeito. Não são temperos, são ingredientes. Não é como não ter sal no arroz, é como não ter arroz. Sem comida, qualquer vivo morre.
Há várias estórias que se pode inventar para seguir com sua própria vida.
Mas não há nenhuma que justifique passar essa invenção a outros. Mentiras existem várias, verdade, só uma.
Disse ontem, digo ainda hoje, e depois de ontem, com ainda mais clareza: acredite no que quiser, justifique o seu absurdo. Mas não peça o mesmo de mim, eu que não tenho porque negar meus olhos, meus ouvidos, meu corpo, minha individualidade pra justificar minhas escolhas.
Uma amiga achou um poema, lembrou-se de mim. E ai eu ME lembrei de mim: É preciso ter fé que há sangue nas veias. É preciso seguir quem tem sangue e não desculpas:
"Na parede de um botequim de Madri, um cartaz avisa: Proibido cantar.
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com
os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: Ainda existe gente que canta,
ainda existe gente que brinca".
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