Nice Girls Finish Frist
Marin Frist é um personagem com toda a cara de personagem. Talvez, inclusive, a série não tenha dado certo porque ela, ao contrário de House por exemplo, em que a série se funda, acaba por ser o pretexto pra que a trama e todos os outros personagens apareçam e se desenvolvam.
E não é porque Anne Heche não segura, ela é carismática, linda, inteligente, simpática e empática, mas a questão é que nem na ficção uma pessoa pode representar o consenso e a solução de todos os embates, de todas as incongruências. Marin Frist simplesmente pretende ser o equilibrio das forças; mas mundo, e principalmente as pessoas, não são equilibradas e não tem o dever, nem deveriam ter a pretensão, de serem mares estáveis. Porque tal qual o universo, o que produz a vida é o caos.
Marin Frist na verdade é a passagem. E principalmente como passagem, ela não pode ser também o resultado que se encontra após o trauma: ela, no máximo, é ambos, ela no mínimo deveria ser instável, perdida, desconexa e, porque não, deveria ter um pouco de raiva. Porque Men in trees trata do problema - encontrar-se, conhecer-se - tratando da pretensa causa (os homens, no caso dela) e do pretenso ambiente, ambos errados, por estarem lá fora (Ou a série é muito mais inteligente, e vai pra fora num artifício muito mais forte, que é o contraposto, para mostrar em espelho (invertido) o mundo à Alice Frist...).
Marin Frist, terapeuta de relações, continua sendo a palavra certa, a interpretação vinda de fora e por isso, valiosa. Mas talvez de tanto tratar e compreender as situações de fora, Marin se esqueceu de que ela é também uma pessoa e o mais importante, ela se esqueceu - apesar de que a série a está lembrando - de que um final feliz não necessariamente é um final de concordância. O que deixa ainda mais lindo a escolha da ambientação da série no Alaska, com uma natureza brutal e extrema, de temporalidades muito marcadas exigindo do homem bem mais do que no resto do globo. Nesse lugar, necessariamente, há que se conviver com mais arbitrariedades e há que se adestrar a mente através da paciência, e o coração, através da resignação. Marin não vencerá nenhuma montanha no Alaska, elas são frias demais, altas demais, agudas demais. Mas ela descobre, por isso, não que montanhas não podem ser vencidas, mas que nem todas precisam ser. E que isso não leva a mais ou menos felicidade. Simplesmente é. Para grandeza de ambas.
Marin Frist se apaixonou por Jack, que não se apaixonava por ninguém pois ainda sofria de dor de cotovelo por causa de Lyn. Mas ele "quebrou o gelo" e resolveu abrir seu coração para Marin. E aí Lyn reapareceu, grávida de outro homem. E Jack resolveu reatar com ela.
E aí tem esse episódio 16, "Nice girls finish Frist", num trocadilho com o ditado "Nice girls finish first", em que Lyn fará um chá de bebê e ela dá um convite à Marin. E Marin vai ao encontro e leva um presente tão grande que mal passa na porta. E eles vão abrir o carrinho e se segue uma situação constrangedora que termina com Marin levando pra fora o carrinho e permanecendo lá, absorta da festa. Então Lyn vai até lá:
- Err, Marin... seu presente...
- É, eu sei.. foi meio louco.
- Não, sabe, foi muito gentil. Eu só não quero que você se sinta na obrigação. Eu sei que essa é uma situação estranha.
- Olhe em volta, nós superamos isso, certo? Er... eu não superei. Eu te dei aquele presente, pois assim, você gostaria de mim. Eu achei que lhe dando um presente enorme as coisas poderiam ficar não tão estranhas entre nós.
- Mas você não acha que as coisas sempre serão estranhas entre nós?
- Sim...
- Digo, eu estava tentando fingir que tudo estava bem também. E achei que você nem ia querer vir hoje aqui. Eu dei o convite para você porque achei que era o que deveria ser feito.
- Sabe, eu realmente acho que em outro universo nós teríamos sido amigas.
- É. Assim, talvez, nós não tivéssemos que nos esforçar tanto para ser neste aqui.
- Você está certa, Lyn. Fico feliz por termos conversado. Porque, honestamente, eu te acho ótima, e te desejo o melhor, e... Estou fazendo isso de novo! (Risos) Posso ir embora?
- Claro. Você não precisa da minha permissão.
Sempre o episódio começa e termina com uma espécie de off feito pela própria Marin. E esse termina com o que realmente eu queria dizer disso tudo:
Que é uma coisa boba, mas que a gente esquece, no afã de querer ser aceito, de querer manter coisas que há muito tempo, nem existem mais, tal qual vieram, tal quando nos foi apresentado. Que é a coisa que finalmente eu estou fazendo (ou me desfazendo): doando ao mundo aquilo que não me serve mais; transformando o que me cabe, transformando-me para caber no que quero e deixando ir o que não me faz, não me recebe, não me reconhece e não se adapta ao sujeito que eu quero que eu seja. E com isso, dou aos que vão também a chance de se refazerem num lugar melhor. A história vai ficar para sempre. Mas eu, ao contrário dela, preciso me mover pra fora das memórias, no mundo dos vivos.
E não é porque Anne Heche não segura, ela é carismática, linda, inteligente, simpática e empática, mas a questão é que nem na ficção uma pessoa pode representar o consenso e a solução de todos os embates, de todas as incongruências. Marin Frist simplesmente pretende ser o equilibrio das forças; mas mundo, e principalmente as pessoas, não são equilibradas e não tem o dever, nem deveriam ter a pretensão, de serem mares estáveis. Porque tal qual o universo, o que produz a vida é o caos.
Marin Frist na verdade é a passagem. E principalmente como passagem, ela não pode ser também o resultado que se encontra após o trauma: ela, no máximo, é ambos, ela no mínimo deveria ser instável, perdida, desconexa e, porque não, deveria ter um pouco de raiva. Porque Men in trees trata do problema - encontrar-se, conhecer-se - tratando da pretensa causa (os homens, no caso dela) e do pretenso ambiente, ambos errados, por estarem lá fora (Ou a série é muito mais inteligente, e vai pra fora num artifício muito mais forte, que é o contraposto, para mostrar em espelho (invertido) o mundo à Alice Frist...).
Marin Frist, terapeuta de relações, continua sendo a palavra certa, a interpretação vinda de fora e por isso, valiosa. Mas talvez de tanto tratar e compreender as situações de fora, Marin se esqueceu de que ela é também uma pessoa e o mais importante, ela se esqueceu - apesar de que a série a está lembrando - de que um final feliz não necessariamente é um final de concordância. O que deixa ainda mais lindo a escolha da ambientação da série no Alaska, com uma natureza brutal e extrema, de temporalidades muito marcadas exigindo do homem bem mais do que no resto do globo. Nesse lugar, necessariamente, há que se conviver com mais arbitrariedades e há que se adestrar a mente através da paciência, e o coração, através da resignação. Marin não vencerá nenhuma montanha no Alaska, elas são frias demais, altas demais, agudas demais. Mas ela descobre, por isso, não que montanhas não podem ser vencidas, mas que nem todas precisam ser. E que isso não leva a mais ou menos felicidade. Simplesmente é. Para grandeza de ambas.
Marin Frist se apaixonou por Jack, que não se apaixonava por ninguém pois ainda sofria de dor de cotovelo por causa de Lyn. Mas ele "quebrou o gelo" e resolveu abrir seu coração para Marin. E aí Lyn reapareceu, grávida de outro homem. E Jack resolveu reatar com ela.
E aí tem esse episódio 16, "Nice girls finish Frist", num trocadilho com o ditado "Nice girls finish first", em que Lyn fará um chá de bebê e ela dá um convite à Marin. E Marin vai ao encontro e leva um presente tão grande que mal passa na porta. E eles vão abrir o carrinho e se segue uma situação constrangedora que termina com Marin levando pra fora o carrinho e permanecendo lá, absorta da festa. Então Lyn vai até lá:
- Err, Marin... seu presente...
- É, eu sei.. foi meio louco.
- Não, sabe, foi muito gentil. Eu só não quero que você se sinta na obrigação. Eu sei que essa é uma situação estranha.
- Olhe em volta, nós superamos isso, certo? Er... eu não superei. Eu te dei aquele presente, pois assim, você gostaria de mim. Eu achei que lhe dando um presente enorme as coisas poderiam ficar não tão estranhas entre nós.
- Mas você não acha que as coisas sempre serão estranhas entre nós?
- Sim...
- Digo, eu estava tentando fingir que tudo estava bem também. E achei que você nem ia querer vir hoje aqui. Eu dei o convite para você porque achei que era o que deveria ser feito.
- Sabe, eu realmente acho que em outro universo nós teríamos sido amigas.
- É. Assim, talvez, nós não tivéssemos que nos esforçar tanto para ser neste aqui.
- Você está certa, Lyn. Fico feliz por termos conversado. Porque, honestamente, eu te acho ótima, e te desejo o melhor, e... Estou fazendo isso de novo! (Risos) Posso ir embora?
- Claro. Você não precisa da minha permissão.
Sempre o episódio começa e termina com uma espécie de off feito pela própria Marin. E esse termina com o que realmente eu queria dizer disso tudo:
Enquanto crianças, somos ensinados a sermos gentis, a compartilhar os brinquedos, a comer os vegetais. E que se não tiver algo gentil a dizer, não dizer nada. Mas, cada vez que mordemos nossas línguas nós nos conhecemos uns aos outros um pouco menos. Para poupar os sentimentos de alguns, nós escondemos os nossos próprios. E quando você esconde o que sente, você acaba tendo arrependimentos. Ser honesta pode não te fazer a garota mais popular da escola, mas vai te render respeito. E quando garotas legais aprendem a se respeitar, elas sempre se dão bem (que no original é: girls that learn to respect themselves always finish first).
Que é uma coisa boba, mas que a gente esquece, no afã de querer ser aceito, de querer manter coisas que há muito tempo, nem existem mais, tal qual vieram, tal quando nos foi apresentado. Que é a coisa que finalmente eu estou fazendo (ou me desfazendo): doando ao mundo aquilo que não me serve mais; transformando o que me cabe, transformando-me para caber no que quero e deixando ir o que não me faz, não me recebe, não me reconhece e não se adapta ao sujeito que eu quero que eu seja. E com isso, dou aos que vão também a chance de se refazerem num lugar melhor. A história vai ficar para sempre. Mas eu, ao contrário dela, preciso me mover pra fora das memórias, no mundo dos vivos.
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