Jogo perigoso
Tenho que confessar que tinha preconceito com o gênero do terror na literatura. Logicamente, já via um pouco, mas muito pouco, da sua beleza, através de Edgar Alan Poe ou Robert Louis Stevenson. Ou dissolvido como em O retrato de Dorian Grey, porque vamos combinar, aquilo tem muito do verdadeiro conto de horror. Acontece que o meu amor é um inveterado cultuador do terror. Sim, já imaginei as piadas hehehe. Mas enfim, meu amor vem me apresentando várias obras do gênero e eu estou sendo obrigada, com gosto, a admitir que estivesse sendo preconceituosa e que o terror e os autores que o utilizam têm várias facetas e elas são muito interessantes. É o caso, por exemplo, de Stephen King, autor do romance que dá título a esse post. O romance foi publicado em 1992, mas a cópia que leio foi reeditada, numa coleção linda, em 2007, pela editora Objetiva.
Quando comecei a ler esse livro, ainda estava muito fresca a memória de um anterior, O iluminado. Eu então já sabia do quão sádico, horripilante e impiedoso era Stephen King. E tinha esperanças que ele não deixasse cair a qualidade literária que eu percebi e muito me chamou atenção, no prefácio que ele escreveu para uma reunião de contos de terror (Drácula, Frankenstein e O médico e o monstro). Nele, ele não só demonstrava uma verve agradável como um conhecimento e uma didática impressionantes, fazendo com que "as boas vindas" ao livro fossem mais uma obra entre as constantes no livro. O fato é que não me decepcionei. O livro é impressionante. É a coisa mais asfixiante e pavorosa que eu já li. Não tanto pela profundidade, mas pela constância e variedade do pavor. E igualmente chocante é o foco do autor. E ele consegue trafegar entre a visão masculina com seus voyeurismos sarcásticos tão comuns e uma visão muito próxima, muito íntima, do sentimento feminino frente a esse voyeurismo. Através de usa sombras, seus eclipses, ele consegue criar com tal conhecimento os objetos do cenário do imaginário feminino, que quase esquecemos que existe um homem atrás daquelas letras. E quase temos como certo que Stephen King já deve ter se deitado num divã. Porque ao fim da narrativa, conseguimos o que ele menciona literalmente: uma epifania. O livro consegue somatizar-se em nós e durante a leitura temos a impressão viva(!) de que nossos fantasmas se revolvem no armário. É uma verdadeira provação que requer nervos fortes, mas com satisfação garantida. E sem medo, ouso dizer que no terror Stephen é o rei :)
Comentários
arrume o volume 1 dos livros de sangue do clive barker. vc não vai se arrepender (os demais volumes vão caindo de nível. os 2 primeiros são os melhores, sendo que o primeiro é genial... infelizmente, é possível que estejam fora de catálogo)