As coisas belas e as amargas
"De vez em quando Deus me tira a poesia.
Olho pedra, vejo pedra mesmo.
O mundo, cheio de departamentos,não é a bola bonita caminhando
solta no espaço."
(Adélia Prado, Poesia Reunida, p.199.)
De vez em quando Deus me tira -totalmente- a paciência.
Olho algumas gentes, vejo burros mesmo.
O mundo, cheio de lotes para capinar, deixa livre as antas a caminhar soltos no espaço.
(Eu mesma)
Graças a Deus eu não sou Deus e não tenho obrigação nenhuma de amar as antas, os asnos, os jegues e os burros de boca e de alma. Aí nas minhas orações peço: Ó Deus, hoje não, hoje e quem sabe, se eu for uma boa menina, para sempre afaste de mim esses gremlins que me lembram que o mundo não só não é perfeito, como também é um lugar desolador e cheio de raiva.
Porque meu pai disse uma coisa sábia e muito difícil: ame, minha filha, ame principalmente aqueles que ninguém de verdade ama. Dê seu amor àqueles que não merecem, não importam e até não são capazes de amar. Aí eu digo, pai e Pai:
Hoje não.
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