O tempero da vida
“Fanis, meu filho, na vida há dois tipos de viajantes:
aqueles que olham no mapa e aqueles que olham no espelho.
Os que olham no mapa estão partindo.
Os que olham no espelho estão voltando para casa."
Algumas coisas são interessantes para mim, à primeira vista e sem muito comprometimento, num filme. Primeiro é a língua e segundo a ambientação. Quase a totalidade dos filmes são em inglês atualmente. Sobram, ainda comumente, o francês e o espanhol. O filme "O tempero da vida" é grego e só por isso já se apresenta diferente. Os tempos são diferentes, as personagens são diferentes apesar de manter, logicamente, o compromisso com a simplicidade dos sentimentos comuns a todos os seres humanos, independente de sua proveniência. Fanis (que na fase jovem não deve nada a Gael Garcia) é um homem que teve sua apreensão e compreensão do mundo vinculada ao farto universo gastronômico grego, trazido a ele por seu avô. Através de associações culinárias seu avô vai ensinando-lhe a vida, ou melhor, ensinando como a vida seria mais saborosa.
O que seria uma fábula pré-fabricada à la Compte-Sponville torna-se um pouco mais vasta em "O tempero da vida". Naturalmente, as famílias gregas são numerosas e comportam tipos diferentes quer em idade, quer em posturas. Há, claro, uma estereotipação talvez, nos tipos, mas nesse filme, até os estereótipos são bem menos marcados pela plasticidade. Outra característica importante de um filme off hollywood talvez seja isso, deixar que a variedade tenha vida própria e comporte uma complexidade maior, comporte hiatos humanos.
E exatamente por isso, o verdadeiro tempero do filme aproxime-se tanto do tempero da vida: não há receitas, há condimentos que a tornam mais saborosas ou mais fáceis de ser engolida. Há modos de tornar o simples inesquecível e de tornar o inesquecível fresco na memória.
Se no ocidente entendemos que a dose define o veneno, poderíamos também começar a aprender que o tempero revela ou embota o sentido. Talvez assim entenderíamos e aceitaríamos melhor uns aos outros.
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