O pânico nosso de cada dia



Vez por outra o cinema tenta fazer uma crítica ao modo de vida do homem, e vendo o absurdo, acaba por produzir mais um. Nenhum problema quando isso vira um filme de terror. O filme original é japonês chamado Kairo(2001) e o remake é o Pulse(2006). Ao que parece existem diferenças temáticas entre ambos, trazendo somente a fidelidade de estética (leia mais sobre as diferenças aqui).

Comumente o cinema americano faz bobagem quando pretende criticar algo. Faz uma metonímia preconceituosa e exagerada, coloca a questão e a abandona, em pró do espetáculo somente. É o caso de Pulse. A temática é interessantíssima: o mal causado pelo excesso de informação graças à tecnologia. O resultado é um filme de terror plasticamente perfeito e com efeitos especiais de primeiríssima. Mas a questão em si ficou em segundo plano e não deveria.

Atualmente, a maioria das pessoas que usam a internet, por exemplo, já enfrenta pelo menos um problema do excesso da informação que é a perda da certeza de veracidade. Isso, fora a quantidade de informação a que somos expostos sem o menor critério de necessidade. Existe hoje uma vida "virtualizada", ou seja, vivida através do contato entre variadas formas de tecnologia que em alguns casos supera a própria vida vivida. Há recursos não só de comunicação, mas de entretenimento e de trabalho que tomam do homem mais tempo que o tempo gasto na produção do conteúdo transmitido. Com isso, o meio torna-se cada vez mais o termômetro das relações.

Um fato simples, por exemplo, que faz parte da vida de todos. Há não muito tempo atrás, marcávamos um compromisso em determinada hora e esperávamos as pessoas. Hoje é comum que as pessoas liguem umas para as outras dando as coordenadas de movimento até o local de encontro tais como "estou saindo de casa" "estou chegando ao local" "cheguei e estou na mesa tal". Ora, se o compromisso estava marcado, é natural que haja um percurso, um tempo e mais natural e até sem nenhuma inconveniência ou incômodo que se procure, durante 1 minuto onde a pessoa estará, no local marcado. Mas não, porque o meio é que domina nosso tempo. Ele encurta a nossa paciência, encurta as probabilidades de erro, sim, mas também as nossas probabilidades de viver o momento. Porque parar e observar as pessoas enquanto se espera é perder tempo. E é preciso ter controle do tempo, as tecnologias ensinam. Se antes éramos escravos do relógio, aquela caixa obsoleta, hoje temos o celular, o palm para "apitar" a urgência, o atraso, o compromisso.

Para externar isso, talvez o filme use a melhor representação: toda vez que uma personagem é exposta ao "fantasma" ele se exaure e sente como se "a vida lhe fosse sugada". E como também se fala no filme, a tecnologia pulsa. Mas também o homem.

Comentários

Anônimo disse…
estamos todos nos interligando

peça pro didi arrumar prá vc quadrinhos do transmetropolitan ;-)

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