Enquanto dá
Não sei exatamente porque, mas as pessoas estão perdendo a espontaneidade típica de pessoas que se conhecem e se gostam.
Há uns cinco anos atrás, eu morava num bairro de periferia bem afastado. Lá as crianças jogavam bola na rua, soltavam pipa e ainda iam à escola. A gente não precisava arrumar para ir à padaria, ia de havaianas. Telefone público, só na farmácia.
Não sei por esse pretenso clima de descompromisso, era normal receber a visita de um amigo ou conhecido sem aviso prévio. Tocava a campainha e a mãe gritava "É o fulano minha filha! Pode subir, fulano, ela está lá na sala". E quase nunca havia um interesse oculto nessa visita. Ia pra falar de tudo e de coisa nenhuma, iam pra tomar café. E também havia aquelas visitas de domingo que chegavam pra almoçar. O aviso acordado nesse caso era chegar cedo, antes de começarem os preparativos para o almoço, já que teríamos que aumentar os pratos. E as visitas iam embora à tardinha, "em tempo de pegar o ônibus ainda vazio".
Hoje, não sei se pelo fato de haver violência nas ruas, trânsito intermitente ou acúmulo de compromissos ou tarefas, simplesmente é quase impossível visitar alguém do modo antigo. Há os que pedem até uma semana de antecedência para receber a visita. Há os que preferem um encontro fora de casa. Há os que só se falam e se abraçam via telefone, e-mail ou cartão comemorativo. Há os que não se vêem.
Agradeço muito, enormemente por ainda haver pessoas que nos visitam, nos recebem e que ainda nos enviam mensagens desejando as coisas mais lindas:
Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.
(Adélia Prado)
Porque é preciso receber e pra isso é a casa. A casa de pedra e a casa de nós mesmos.
Comentários
Rovi: vofê é minha parede laranza!
ooooooooonnn!
hihihihi ;)
chama urbanização ;-)
(Kenji)
ou a seleção de futebol da holanda ;-)
(Kenji)